segunda-feira, 10 de abril de 2017

Tudo vale a pena quando a paixão não é pequena.


Amigos, mudei de ideia.

Talvez não. Bem, por uns dias sim, mas acho que agora não mais.  

Na semana passada escrevi sobre como gostaria que a história se repetisse. Que o Atlético saísse classificado da Vila Capanema, triunfante sobre o Paraná Clube, assim como ocorreu em 2016.

No entanto, nos dias que sucederam a crônica do dia 3 de abril, tivemos, no STJD, o julgamento do caso Getterson, escalado irregularmente pelo J. Malucelli para disputar o Campeonato Paranaense, que culminou em uma mudança significativa na classificação final do torneio.

O Rio Branco, que, pelas regras, teria que se classificar em oitavo, herdou a vaga do Jotinha, que tinha se classificado em quarto lugar. Nesta brincadeira de mau gosto, os outros sete times classificados para a segunda fase foram diretamente afetados, pois os confrontos das quartas de final, se a classificação fosse de fato respeitada, mudariam. Não seriam, portanto, o que foi homologado pela Federação Paranaense antes da decisão no Rio de Janeiro. 

O que mais me enraiveceu, no entanto, foi o fato de que se tratava de um resultado anunciado. Todos com um mínimo de capacidade cognitiva sabiam das grandes chances de condenação do J. Malucelli. Mas, mesmo assim, a Federação Paranaense de Futebol optou – levianamente – por dar prosseguimento ao já fracassado Campeonato Paranaense. 

Com o resultado auferido no STJD, me pus então a perguntar qual era a real função do Atlético nessa disputa. Servir de muleta para uma entidade corrupta? Dar apoio aos times do interior, cujo único torneio que participam, em sua maioria, é justamente o campeonato regional? 

Nesta reflexão, me perguntei inúmeras vezes se deveria me importar com um certame que nada mais faz do que trazer prejuízos financeiros e técnicos ao nosso time. Uma pergunta martelava na minha cabeça: o que o campeonato paranaense nos traz de bom? A resposta era sempre a mesma. Nada. Absolutamente nada.

E foi nesse momento que eu mudei de ideia. 

Desejei que a história não se repetisse, mas que, ao contrário, fosse bem diferente. Cheguei, por um momento, a desejar que não fôssemos à Vila Capanema, ou então que deixássemos o pequeno Paraná passar. Afinal, eles fariam melhor proveito desta vaga, uma vaga que seria do tamanho deles, e muito inferior ao nosso. 

Passei a semana declarando aos quatro ventos que não me importaria mais com o Campeonato Paranaense. Que, pra mim, não importaria o resultado do jogo. Vitória ou derrota, tanto faz. Afinal, quem, em sã consciência, perderia tempo com algo tão mal organizado e depreciativo?
Então, o domingo chegou. Acordei de bom humor, tal como sempre acontece quando sei que o Atlético irá jogar. Rapidamente me repreendi, uma voz em minha cabeça me alertava: “você disse que não iria se importar!”. 

Realmente... 

Tratei logo de afastar o bom humor. Como boa teimosa que sou, bati o pé, guardei o fone de ouvido na gaveta e decidi que não iria acompanhar o meu time neste show de horrores.

Às 17h30, inconscientemente, me senti levemente agitada. Meu coração mandava sinais de que algo importante estava prestes a acontecer, mas eu tinha uma promessa a ser cumprida. Não iria voltar atrás na minha decisão.

Vinte minutos depois, incomodada com as notícias que apareciam nas minhas redes sociais, me permiti dar uma espiadinha, uma pequena bisbilhotada. Apenas para ver como o time se portaria, pensei comigo. Se jogaríamos na defesa ou no ataque, qual era a escalação, se iríamos com um falso lateral direito e como se portaria nosso meio campo com o talentoso Biteco jogando como titular.
Seria rápido, pensei veementemente.

Dado o apito inicial, tentava imaginar como o time estava postado em campo. O que era para ser apenas uma espiadinha virou, de imediato, uma análise. O coração entrou no ritmo que está acostumado a bater quando o Furacão entra em campo. Aumentei o volume. 

Verdade seja dita: não seria a primeira nem a última promessa feita a mim mesma que seria quebrada. 

Foi então que tive um novo momento de reflexão... 

Não se trata de acompanhar um campeonato, mas sim de acompanhar o meu time. Onde quer que seja, contra quem seja, em qualquer torneio que seja. Quando a instituição Clube Atlético Paranaense entra em campo, não tenho o direito, como torcedora apaixonada, de não torcer pelo seu sucesso. 

Que fique claro que eu não passei, de uma hora para a outra, a me importar com um campeonato corrompido. A minha opinião sobre Campeonato Paranaense continua a mesma: trata-se de um torneio sanguessuga, vil, quase que pornográfico. Mas, mesmo assim, era o meu amado Furacão em campo. 

Lembrei-me, então, de Fernando Pessoa, quando, em um dos mais belos poemas escritos na língua portuguesa, escreveu que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena".

Nesse momento aumentei ainda mais o volume do rádio e rapidamente adaptei o poema: 
Tudo vale a pena quando a paixão não é pequena. 



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