Aqui, achocolatado em pó se
tornou Nescau, hastes flexíveis são conhecidas por Cotonete, lâminas de
barbear, em terras tupiniquins, são chamadas de Gilette, e por aí vai. São
variadas as substituições encontradas no linguajar verde e amarelo.
Nesta esteira, o Estádio
Jornalista Mário Filho, por exemplo, é conhecido por vários nomes, menos o seu.
Maracanã, Templo do Futebol, Patrimônio Histórico, Gigante do Futebol, o Maior
do Mundo, ou, para os mais íntimos, Maraca.
Construído para a Copa do Mundo
de 1950, o concreto que dá forma a este gigante presenciou um de nossos
primeiros momentos de tristeza, o famoso Maracanazzo. Na terra que dá suporte a
este monstro sagrado do esporte bretão, já pisaram Zico, Washington, Assis,
Pelé, Garrincha, Zagallo e outros inúmeros jogadores do mesmo tamanho, senão
maiores, que ele.
Pessoalmente, tenho uma história
de grande afeto pelo Maraca, apesar da lembrança que tenho dele ser agridoce.
Amarga pela derrota do Furacão, doce pelo fardo histórico que presenciei.
A primeira e única vez que fui
até o Maracanã, foi para assistir a final da Copa do Brasil de 2013. Lembro-me,
como se fosse hoje, da sensação que tive quando meus pés ultrapassaram o portão
de entrada: quando ergui meus olhos, vi aquela imensidão à minha frente e, sem
resistir, sucumbi. Fui sufocada pela História que tirou o ar dos meus pulmões e
me deixou estarrecida. Meus olhos não sabiam para onde olhar, se para as
arquibancadas, se para o gramado, ou então pra qualquer canto que achasse
pertinente, afinal de contas, todos os cantos daquele Estádio exalavam contos e
causos que meu pai me contava desde pequena. Eu estava no Maracanã, e lá, meus
amigos, até o ar que se respira é diferente.
Pois bem, trazendo esta crônica
para os dias atuais, contando com o misticismo deste templo, o Clube de Regatas
do Flamengo normalmente manda seus jogos importantes no Maracanã. Como não
podia ser diferente, decidiu mandar lá o jogo contra o Atlético, pela Taça
Libertadores da América, contando com a lotação total de lugares por sua imensa
torcida, e torcendo para que, assim, ocasionasse uma pressão ainda maior nos jogadores
do Rubro-Negro de Curitiba.
De fato, talvez a tática tenha
dado certo.
Quem assistiu os primeiros 15
minutos daquele jogo deve ter tido a impressão de que fomos engolidos vivos
pelos cariocas. Concordo que o time tenha sido engolido, entretanto, na minha
concepção, quem o mastigou foi o Maracanã, e não o Flamengo. Assim como eu,
parecia que aquele estádio tinha tirado o ar dos pulmões de quase todos os
jogadores do Furacão.
Digo de quase todos, porque a um
deles parece que o efeito foi justamente o contrário: Matheus Rossetto.
Modéstia à parte me considero
bastante apta para escrever e avaliar o trabalho do Rossetto, haja vista que o
acompanho desde seus jogos pela base do Atlético e também acompanhei sua
passagem pela Ferroviária de São Paulo. Apesar de tudo isso, há que se falar
que, dada a lógica, pela sua pouca idade e, se comparado ao restante do elenco,
deveria tratar-se de um jogador que sentiria a pressão deste jogo em um nível
elevado.
Ledo engano.
No jogo pela Libertadores, Rossetto,
como um pai experiente, tomou conta do meio-campo do Atlético que, muito
preocupantemente, não contava com Otávio, nossa fortaleza. Com a sabedoria de
um idoso, nos momentos em que faltava ar aos deslumbrados jogadores do Furacão,
colocou a bola no chão, com calma e parcimônia.
E, mesmo eu, que sempre soube de
seu potencial, fiquei surpresa com a experiência demonstrada por ele naquele
jogo. E ainda, mesmo ele demonstrando que está pronto para ser titular deste
time, continuo, a cada jogo, me impressionando com o seu gigante talento.
O gigante carioca, como bem disse
Paulo Autuori, está maltratado. Mas, mesmo assim, o seu peso ainda é enorme.
Peso este que parece não ter tido influência em Rossetto, e isso é deveras impressionante.
Alguns podem entender não ser nada de mais, mas, pessoalmente, eu considero que
tal atitude é exclusiva apenas aos iluminados.
Ao mesmo tempo em que torço para
que os cariocas cuidem do gigante deles, rezo silenciosamente para que cuidemos
com o maior zelo possível do nosso. Afinal de contas, é preciso ser um gigante
se não quiseres ter medo de outro... E é isso que tu és, Rossetto. Um talento
gigante.
otimo
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